terça-feira, 22 de junho de 2010

Introdução

Esse é mais um ensaio, pra organizar as idéias. Mas é que no post em que eu divide com vocês as minha dúvidas as contribuições foram tão boas, que nada mais justo (e útil, claro), que continuar dividindo.
Como eu tinha contado, eu só preciso apresentar um projeto de pesquisa agora, nada muito extenso, factível de ser feito até dia 3 de julho considerando o que já venho amadurecendo na cabeça. Acabei não contando no último post sobre leituras que um dos livros que estava na minha lista, e agora já está pelo menos começado, é o Desenvolvimento como Liberdade, do Amartya Sen, Nobel de Economia. E eu tô gostando muito porque ele basicamente defende que o foco do desenvolvimento deveria ser a expansão da liberdade. Segundo ele, não existiria país desenvolvido sem democracia plena, por exemplo. Então, o milagre econômico da época da ditadura passa a ser uma falácia. Da mesma maneira que não é possível pensar em desenvolvimento no patriarcado, já que metade da população é relegada à uma condição de segunda classe. Bom, meu pai leu o livro inteiro e, subversivo que só, acho o autor “muito comprmetido com o capitalismo”. Eu não li tudo, mas confesso que isso não me incomoda tanto. Sou muito pragmática e acredito que, se o mundo que temos é esse, é preciso que as pessoas vivam melhor nele. Se uma revolução derrubar toda a forma de opressão, fantástico, mas senão, o Bolsa Família e a Lei Maria da Penha são, sem dúvida, melhores do que nada.
Enfim, e eu pensei em trabalhar com transporte porque eu acho que pega no cerne dessa questão. Não adianta você ter dinheiro pra comprar carro do ano, se vai ficar preso no congestionamento e chegar em casa tarde demais pra usufruir da companhia do seus filhos. Na linha “tem coisas que o dinheiro não compra” mesmo.

Mas a Ingrid lá nos comentários me sugeriu tratar da questão das restrições à mobilidade. E eu adorei. Confesso que já tinha pensado a respeito, mas como o Manoel Carlos fez merchandising social para este tema e, vocês sabem, eu odeio o Manoel Carlos, fiquei com medo de parecer que olha, escolhi o tema da moda por conta da novela. É, eu sou bem bestinha às vezes.
O tema do trabalho, por enquanto, ficou sendo políticas públicas de inclusão de pessoas com restrição à mobilidade. Mandei um e-mail para o coordenador do curso, que achou interessante, mas não tem a menor idéia de que bibliografia me indicar. Então comecei, de novo, com o básico do básico, coleção Primeiros Passos, O que é deficiência?, da Débora Diniz.
Nossa, eu preciso dizer que eu tô muito empolgada. Primeiro porque é realmente um tema pouco estudado. O livro é de 2007, pra vocês terem uma idéia do quanto é pertinente. E lá no lattes descobri que Débora Diniz é estudiosa de questões de gênero. Como entusiasta deste tema, fiquei muito curiosa pra ver qual seria o ponto de intersecção.
No livro ela conta sobre a elaboração a teoria social da deficiência, que se contrapõe ao ponto de vista médico. E tudo faz um tremendo sentido, porque a teoria social diz que o deficiente tem uma lesão que pode limitá-lo, mas se não pode ser incluído não é culpa da lesão, mas da sociedade que é excludente. E que os teóricos desenvolveram essa teoria usando como base o feminismo, já que a mulher é discriminada por ter uma realidade física diferente do homem que, sozinha, não a desqualifica. Gente, eu tô sendo muuuuito simplista, tá? A coisa é muito mais complexa, claro, e o próprio livro diz que a pontos a serem refutados nessa teoria, até porque, para um tetraplégico, por exemplo, não há acessibilidade que supere todas as suas limitações, há a necessidade de uma pessoa ajudando em muitos momentos. Mas o cerne é questionar uma sociedade que isola as pessoas e trata suas dificuldades do ponto de vista do liberalismo individualista da “tragédia pessoal” - não por acaso a teoria social é orientada pelo materialismo histórico. E eu jamais olharia a questão sob esse prisma não fosse este trabalho. Então, pra mim, já valeu o curso.
Então, meu trabalho vai ser, basicamente, analizar o que é feito hoje no Brasil, mas mais especificamente de São Paulo, para incluir as pessoas do ponto de vista de suas limitações físicas. Não vou abordar uma deficiência em especial porque a teoria social diz que separar as coisas desse jeito é “dividir para conquistar”. Mas vou focar em um aspecto, o da mobilidade, tentando relacionar com outro, o do trabalho. Não sei se todo mundo sabe, mas São Paulo tem um orgão público chamado Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, criada em 2005 pelo Serra. E, pelo o que eu pude ler, o trabalho deles tem sido muito bem feito: quando a secretaria foi criada, em 2005, só 300 ônibus de toda a frota paulistana eram acessíveis. A partir de 2009, todo ônibus novo comprado pela prefeitura de São Paulo é acessível. Uma vitória importante, sem dúvida (ó, eu nem gosto de Serra, Kassab e afins, mas trabalho bom a gente tem que reconhecer).
Mas, enfim, os idealizadores da teoria social eram, eu sua imensa maioria, deficientes. Muitos enfrentaram a descofiança da própria família em relação às suas reais capacidades. E, principalmente, reinvindicavam o direito à voz. A fala do deficiente, não sobre o deficiente. Substitua “deficiente” por “mulher” e “teoria social” por “feminismo” nas duas últimas frases neste começo de parágrafo e veja se não tem associação. Meu trabalho não é antropológico nem literário e não pretende abordar o discurso do deficiente propriamente, só talvez suas reivindicações políticas mais imediatas. Ainda assim, tem me feito pensar sobre a necessidade de buscar diferentes pontos de vista para se entender uma realidade, principalmente quando tratamos da alteridade, em conhecer o outro. E hoje, por coincidência, assisti aos vídeos que a Daniela colocou neste post, em que a escritora nigeriana Chimamanda Nzogi Adichie fala sobre os perigos de basearmos toda nossa visão de mundo em um único relato (recomendo fortemente, viu? a lucidez dela é encantadora). Porque, no fundo, a gente percebe que a filosofia por trás do machismo, do racismo, da homofobia é a mesma da insensibilidade às questões dos deficientes: a de que só há um modo de vida legítimo, e que todo o mais deve ser destruído, ignorado ou, no mínimo, privado de poder.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Desculpaê, pieguice de novo

Eu tinha planejado escrever sobre o andamento do meu trabalho da pós. Vou fazer isso, porque eu tô muito empolgada, mas não hoje, nem agora. É porque aconteceu algo que eu quero contar. Prosaico assim, visto de fora, mas tão forte pra mim.
A gente cresce ouvindo a moral de que dinheiro não traz felicidade. Daí o cartão de crédito te diz que “tem coisas que o dinheiro não compra”. E é verdade, claro. Mas às vezes a gente sente isso de uma maneira tão impactante. Como escrevi no meu aniversário, eu acho que os meus amigos, o carinho das pessoas que me cercam, é o bem mais precioso conquistado nestes meus 30 anos. E eu não tenho “1 milhão de amigos” como diz a música, o que me alegra é o quanto sou amada por essas pessoas tão especiais.
Tenho a minha amiga Ma, que foi pra França na mesma época que eu, nos conhecemos por lá. Vivemos muitas coisas juntas, ela conheceu sua cara-metade e ficou. Hoje ela é mãe do Arthur, um francobrasileiro de quase 11 meses, uma coisa de louco de tão fofinho e sorridente. A Ma é uma pessoa maravilhosa, e eu desenvolvi uma relação de cumplicidade imensa com ela. Não fosse isso o suficiente, ela já me quebrou vários galhos. Várias coisas que hoje estão no meu apartamento são herança dela, que tinha seu canto montado aqui, deixou tudo estocado na casa da mãe quando foi pra França, e resolveu me emprestar móveis e utensílios de cozinha quando eu saí da casa dos meus pais. Empréstimo sem data pra devolução, as coisas estão comigo até hoje. E a mãe dela numa simpatia sem tamanho todos os milhares de vezes que eu fui buscar algum móvel, algum presente mandado da França ou deixar lá algo a ser mandado na próxima viagem da família.
Enfim. O telefone tocou agora há pouco. Era a mãe da Ma. Disse que a filha pediu que os seus disquinhos coloridos de musiquinhas de infância fossem passados para o Mp3, para que o Arthur pudesse ter a oportunidade de ouvi-los. Ela fez isso e resolveu também fazer cópias para as pessoas queridas. Lembrou que o meu marido tem sobrinhas, imensamente amadas por mim, e me ofereceu uma cópia para presenteá-las.
Eu disse que era prosaico. Mas eu estou muito comovida pelo carinho de alguém que lembra não só de mim o tempo todo, mas de quem é importante pra mim. Tô boba até agora. Disquinhos de músicas da nossa infância, que serão copiados para as minhas pequenas queridas. Não consigo sequer estimar o valor de algo assim. Porque olha, se isso não é amor materializado, então eu não sei o que é.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Globo e o “Cala a Boca Galvão” - ou sobre o acesso à informação

Olhem só, eu não tô no twitter, mas às vezes sei o que acontece. E isso virou notícia. Então, se por acaso alguém que passar por aqui não souber (quem sabe pode pular pro segundo parágrafo): o twitter tem lá seus “trending topics”, os assuntos mais comentados. E, de repente, “cala boca galvão” passou a ser um deles, porque de tanto retwittar, o volume de mensagens com este tema ficou enorme. E os gringos começaram a querer saber e alguém inventou uma história hilária de que Galvão era uma espécie em extinção, que se você retwitasse a mensagem contribuiria com a campanha para salvá-lo.
Mas, enfim, virou notícia fora do twitter. E a própria Globo não pode ignorar. Parece que o Galvão Bueno se fez de desentendido até ser pressionado a “entrar na brincadeira”. Só que, oi, não é brincadeira. As pessoas não suportam o cara. Mas a Globo se apropriou e quer passar a idéia de que é uma brincadeira carinhosa com o locutor tão querido, que, simpático e bonachão que só, aceitou. Ó, que meigo?
E tudo é uma bobagem (divertidíssima, claro, mas bobagem) e eu realmente não acredito que o Galvão corra o menor risco de ficar sem emprego por isso. Nem me importo, na verdade. Quem tem só TV aberta pode assistir na Bandeirantes os jogos da Copa (há quem não suporte o Neto comentando, mas eu acho engraçado), quem tem TV a cabo pode tentar a ESPN. Aliás, pra quem tem essa possibilidade, eu recomendo fortemente. Outro dia ouvi minha chefe reclamando que os caras lá não são entusiasmados, mas eles manjam muito e fazem jornalismo esportivo de qualidade, uma coisa que eu não estava muito acostumada a ver quando só assistia à Globo, aliás. Sabe gente que manja do que faz sem deslumbramento? Então.
Mas voltando. Acho que o importante dessa história é se, de repente, uma geração aí mais jovem começar a desenvolver a percepção de que a Globo deturpa as coisas à sua maneira. E se faz isso com uma coisa aparentemente inocente, mas de tanta repercussão, o que não fará com coisas menores, menos óbvias talvez, mas mais sérias?
Não sei também se todo mundo aqui sabe, mas nos anos 80 a Globo tentou dar um golpe nas eleições pra governador do RJ. O Brizola ganhou, mas noticiaram no Jornal Nacional que tinha sido o oponente (nem idéia de quem seja), que era mais de acordo com a vontade deles. Nem vou entrar aqui no episódio da edição do debate entre o Collor e o Lula feita por eles, porque acho que é bem mais controversa. Mas me lembrei da marmelada clássica: ignorar o movimento “Diretas Já!”. Enfim, eles tentam construir uma História, segundo sua conveniência. Mas quem não se dá conta, aceita a voz deles como expressão da verdade.
Além de colegas na Pós, tenho amigos queridos que são jornalistas e trabalham para grandes meios. Eu respeito muito o trabalho deles, e justamente por respeitar, sei que não é a voz deles ali publicada. É, em alguma medida, a voz deles, mas filtrada e editada pelos interesses do patrão. A liberdade de expressão até bem pouco tempo atrás era quase exclusiva dos detentores do acesso aos meios de comunicação em massa. Só que essa era está acabando. Um post modesto meu espinafrando o Manuel Carlos foi twittado por uma amiga e retwittado por mais algumas pessoas. Não tenho a menor idéia de quantas pessoas o leram, porque não tenho contador de visualizações, mas com certeza meu texto alcançou meios por onde eu não circulo e atraiu alguma atenção para a minha opinião. Projetando isso exponencialmente, eu só posso ter a esperança de que um dia tenhamos acesso a uma maior diversidade de pontos de vista, o que nos obrigue a desenvolver maior senso crítico para analizar qualquer informação recebida. Serei eu uma otimista?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

As minhas Copas

Eu tava pensando, lendo posts por aí sobre a Copa, que dá pra gente fazer quase uma autobiografia pensando no que estava fazendo em cada uma delas, porque 4 anos entre uma e outra é um espaço considerável. Ainda mais se você, como eu, já não é assim tããão jovem, de um ano pra outro as coisas podem mudar pouco. Mas em 4 dá pra mudar muita coisa na vida, né?
Então vamos lá (e tome fôlego porque vai ser longo):

Eu sou nascida em 80, então fica fácil (pra vocês, porque pra mim é óbvio) saber minha idade em cada uma. Em 82 eu não lembro. Em 86 eu devo ter chorado quando o Brasil foi eliminado. Em 90 eu lembro da fogueteira do Maracanã (joga aí no google pra saber quem é), lembro que o técnico era o Lazaroni, lembro que a gente foi eliminado pela Argentina e lembro que o Careca jogava. Só (e marido vai achar um absurdo, porque sou capaz de apostar que ele sabia escalação já com essa idade...).

Mas 94 começa a ficar bom. Não só porque a gente ganhou a primeira vez (desde que eu sou gente, claro), mas porque eu já era adolescente e comecei a farrear (sem beber ainda, esclareço). E outro dia fiz um churrasco aqui em casa e lembrei com a minha amiga Ceci que essa já é a nossa 5º Copa juntas. A Ceci fez 14 anos em 4 de julho de 1994, dia do jogo Brasil x Estados Unidos, que foi uma festona lá porque era dia da Independência e uma festona pra mim por comemorar o aniversário de uma amiga vendo futebol. Não lembro se foi antes ou depois da Copa que a gente chegou a se estapear por conta, justamente, de futebol: a Ceci é sãopaulina e eu sou corintiana, e o time dela tinha levado um “sacode” de 4 a 0 do Flamengo. Ah, não lembro se a Mari tava nesse dia. E a Mari é corintiana também. Ah, e falando em Corinthians, lembro que o Ronalducho nessa época era o Ronaldinho do Cruzeiro, um moleque magrelo.

98 teve uma final estranha. E na época eu tinha uma relação estranha com um carinha tão nada a ver que até hoje as pessoas (meus pais, inclusive) não entendem bem como eu passei tanto tempo (2 anos) com ele. Não era má pessoa, só não combinava. E, bom, eu assisti aquela final com ele e... perder daquele jeito da França também não combinava. Enfim. Estranho.

2002 foi o auge da vida de solteira. Lembro que uns jogos tinham uns horários loucos. Lembro que eu e a Ceci fomos assistir Brasil x Inglaterra numa festa bizarra que virava do dia 12 para o dia 13 de junho. Frio pra cacete, dia dos namorados, e chegando lá só tinha mulher. A gente bebeu algumas mas não aguentou ficar até 3 e meia quando começava o jogo. Ela me deixou em casa e eu e a minha mãe assistimos sozinhas do sofá da sala – meu pai e meu irmão não gostam o suficiente de futebol para acordar de madrugada pra isso, mas nós duas gostamos. Eu tava quase dormindo e não acreditei quando a bola do Ronaldinho Gaúcho, que parecia um cruzamento errado, entrou. Fiquei olhando pra minha mãe e perguntando: “entrou mesmo?”. E lembrei que a Copa foi o descanso dela nessa época: minha avó, mãe dela, tava bem doente. Faleceu menos de uma mês depois dessa noite: em 11 de julho de 2002.

Ah, mas essa merece 2 parágrafos. Eu e Ceci fomos parar numa balada na final. A idéia era começar a festejar no dia anterior (notem, o jogo só começava às 8h30 da manhã!). Chegamos tipo, à 1h00, bebemos, farreamos e a Ceci perdeu a comanda do bar. Bom, quando é assim os caras querem te cobrar uma multa de 200 ou 300 contos, mas Ceci já tinha carteirinha da OAB nessa época e quebrou o pau com um gerente enquanto eu, largada em alguma mesa, lutava contra o sono e a ressaca. Fomos pra casa dela e eu, de novo largada no sofá, mal vibrei o Penta porque, oi, minha cabeça doía depois de tanta cachaça (crianças, não tentem isso em casa). Nesse dia combinamos, eu e Ceci, que em 2006 estaríamos na Alemanha.

Bem, nós não fomos. Em 2006 eu tava na França (mas marido, que eu ainda não conhecia, estava na Alemanha!). E toda uma experiência. Porque os franceses só se ligaram no que estava acontecendo depois de bater a Espanha. Mas eu andava com a comunidade brasileira. E íamos assistir aos jogos no Stade de Charléty (achei o nome, Amanda!), num telão instalado pela prefeitura. Mas teve o desastre, né? De virar freguesa da França na França. No dia do jogo, um sábado, eu saí orgulhosa de verde a amarelo segura de que, no dia seguinte, ia abafar passeando na Champs Elysées assim. Almocei com a Lu, minha amigona que morava na maison Provence de France na Cité Universtaire, e passamos o dia ouvindo provocações. Cheguei a mostrar o dedo médio pra um moleque no metrô (é, eu já tinha 26 e o moleque não passava de 15, mas e daí?). Enfim, assistimos o jogo num bar brasileiro em République (pra quem nunca foi a Paris, isso não é uma localização precisa, porque não sei agora, mas na época o que mais tinha era brasileiro em République – o badalado Favela Chic fica por lá). E perdemos. Na volta, algum babaca jogou xixi numa amiga que estava com a camiseta do Brasil (oi? você achava que essa falta de civilidade não acontecia por lá?). Mas, enfim. Eles perderam na final. Nos pênaltis. E eu ria com satisfação ao ver o Zidane sendo expulso – vingança é um prato que se come frio e eu não sou feita só de sentimentos nobres. Hehe.

Mas aí, 2010. 30 anos. Julho completo 2 anos no mesmo emprego, e “nunca antes na história desse país” isso aconteceu. Aluguel de apartamento no meu nome. E um marido! Tá bem legal, porque ele é louco por futebol, e a gente é parceiro até pra colar figurinha no álbum. E engraçado pensar que essa pessoa que hoje é tão importante pra mim não fazia parte da minha vida 4 anos atrás. E se você me contasse que: “ó, você vai conhecer um moço assim e assim, e menos de 1 ano e meio depois de vê-lo pela primeira vez vocês já vão estar montando casa”, eu ia achar graça. Mas a vida nos traz surpresas boas às vezes, né? ;)

A próxima Copa é no Brasil e o casal aqui decidiu que vai a estádios (assim no plural), nem que tenha que rifar as duas mães, a minha e a dele (ok, é mentira, só quem ofereceu a mãe pra rifa fui eu – hoho!). Não somos pessoas sérias: a gente mora de aluguel, mas se tiver que gastar até o último trocado pra ver um jogo da Copa no estádio, assim o faremos, porque, oi, outra Copa no Brasil não virá tão cedo. Por motivos óbvios (fraldas custam muito caro) combinamos que filhos só depois de 2014. Talvez a gente encomende algum logo depois da final. Pra comemorar. \o/

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sex and the City

Então, eu não vi o segundo filme e acho que não vou ver. Não no cinema, pelo menos. A não ser que alguma amiga sugira um programinha luluzinha em que a sessão de cinema esteja inclusa- e daí eu vou pela companhia. E nada contra. Mas só não consigo ser entusiasta. Eu tenho amigas superhiperultramegamaxi fãs, que têm todas as temporadas, conhecem episódios de cor, etc, etc. E eu mal sei das histórias, porque só assisti reprises – só fui ter TV a cabo em casa há 3 anos, e a série já tinha acabado.
Mas eu respeito. Muito. Porque se eu tenho uma certa gastura com o consumismo e os deslumbres por grifes – ok, eu tenho mais pares de sapato do que eu precisaria, mas não sou deslumbrada com isso – a gente tem que reconhecer que em termos de comportamento a série foi revolucionária. Uma coisa que sempre me chamou a atenção foi falarem abertamente de mulheres se masturbando. E é impressionante como ninguém falava. Aliás, quase ninguém fala ainda. Nem entre amigas. Recentemente, uma amiga se queixava do quanto era chato estar sem companhia masculina e eu falei que tem horas que a gente se cansa de se satisfazer só com os dedos. Visivelmente constrangida, ela disse que “não gostava disso”. Olha só, da minha geração, fala sobre homens numa boa, mas prazer solitário “não gosta”. E eu acho bizarro mesmo. Consegue imaginar um cara falando pro outro: “ô, nem gosto de punheta?”. Pois é.
Mas as moças lá gostam. E eu lembro da faxineira que a Miranda arranjou que trocou o vibrador dela por uma imagem religiosa. E penso que nunca antes de SATC a gente veria algo assim. E penso na Samantha e toda a sua voracidade, como ela destrói todas as previsões machistas de que a mulher “rodada” tá “condenada” (todas as aspas do mundo, né?) a ficar sozinha. Por ela termina a série ao lado de um homem gato, apaixonado e companheiro, disposto a ficar ao lado dela no momento mais difícil de sua vida, não importa com quantos homens ela tenha transado antes. Lembro da Charlotte que nunca tinha pegado um espelhinho pra olhar sua própria vagina e penso em quantas Charlottes encontramos por aí... Daí meu respeito, porque olha, não deveria ter nada de chocante nada disso, mas todo mundo fazia de conta que a nossa sexualidade só existia orbitando um homem, e para o prazer dele. Então, na ficção assim cotidiana, as mulheres nunca foram tão autônomas.
Daí lembro de ter visto em algum site feminista uma crítica ao primeiro filme. Mas o que eu mais gostei foi justamente o que muita gente achou machista pra caramba. Tipo, a Miranda é a minha personagem favorita. E, desculpe quem não viu o filme, lá ela tá há muitos meses sem transar com o marido. E daí ele a trai e eles se separam. E contando parece mesmo que o lance é que a gente tem obrigação de transar e tal. Mas eu não entendi assim. Porque sexo é carinho em muitos contextos, e a gente vê que não era sexo que Miranda recusava a Steve – era intimidade. E que ele sofre muito por isso. E ele conta a ela que a traiu arrasado, destruído. Não há um pingo de intenção de humilhá-la no ato dele, ele é quem se sente humilhado de ter que esmolar carinho fora da relação. E, por ser feminista, eu deveria acreditar que mulheres não tem reponsabilidade nenhuma pela felicidade dos seus parceiros só pra fazer oposição a quando se acreditava que tudo estava nas nossas mãos? Não, né? Então, bobona que sou, chorei horrores. Pra mim, o filme marcou por essa história: a tentativa de reconstruir uma relação abalada, de fazer o amor valer mais do que a mágoa. E a trilha desta trama é “How can you mend a broken heart”, só pra eu chorar mais ainda. E eu tava no comecinho do namoro com o marido, mas já fiquei pensando o quanto o perdão é matéria-prima essencial dos relacionamentos, especialmente aqueles que se pretendem longos.

Ok, a Carrie, o Big e tal. Isso dá preguiça mesmo. Aliás, desculpaê quem é fã, mas eu acho a Carrie uma chata, sempre achei. Mas quem disse que são os protagonistas que sempre contam as melhores histórias?

domingo, 6 de junho de 2010

Vote em mim – ou pelo menos me ajude a fazer minha monografia

Daí que eu tô fazendo essa pós que não tem nada a ver com a minha formação original, Letras, nem com o meu trabalho atual, assistente-de-quase-tudo. E, bom, tem uma monografia pra entregar no final do curso. Só que a avaliação semestral é, justamente, uma parte da monografia. O coordenador do curso diz que se dá por satisfeito se a gente entregar agora, pra esse primeiro semestre, pelo menos uma introdução, contando o que afinal a gente pretende estudar, e uma bibliografia. E, adivinhem? Nem idéia. Quer dizer, eu tenho uma idéia. O curso se chama Economia Urbana e Gestão Pública, então o trabalho tem que tangenciar algum desses aspectos, senão os dois. Eu quero falar de transporte público, acho. Quer dizer, tenho quase certeza. Mas eu não sei exatamente como abordar. E turma criou um documento pra o povo colocar os seus dados e o tema que pretende estudar. E uma colega colocou lá “Mobilidade urbana e política viária” e eu já me achei uma bosta porque só o título do dela já parece mais sério que o meu. É, eu sou tolinha demais, eu sei.
Daí que além de ler “O que é cidade”, da Raquel Rolnik, eu li “O que é Transporte Urbano”, do Charles Leslie Wright (e eu não vou colocar referência bibliográficas aqui porque este não é meu trabalho, nem links porque eu tô com preguiça, mas quem achar interessante vai no google, né? obrigada). E os dois são muito bons, mas o segundo eu achei fantástico. Porque ele começa abordando 10 mitos sobre transportes e já abalou minhas convicções. Porque um dos mitos derrubados é de que o transporte público é a resposta para o problema de transporte nas grandes cidades. E, olha só, eu acreditava nisso, por isso escolhi como tema do trabalho. E claro, o autor disse que o transporte público é importantíssimo, mas ele é só parte da soluão, não A solução.
O autor é entusiasta dos meios não mecânicos de transporte, principalmente da bicicleta. E foi coincidência porque eu li isso bem na semana em que o Valdson comentou aqui num post antigo em que eu me queixava dos transportes públicos, sugerindo que eu usasse bicicleta. Para Wright, a bicicleta é um sucesso por vários fatores, entre eles o fato de você poder levar cargas com ela (é só ter um bom cesto, supermercados fazem entregas grandes assim), não poluir nadica de nada e, olha só, já combater um outro mal moderno: a obesidade. Se a gente se deslocasse por aí pedalando uma hora por dia, ficava mais magrinho sem precisar pagar academia.
Daí eu pensei que, lógico, tem uma boa parte de escolhas individuais aí (e eu te digo que eu não uso bicicleta, mas tento fazer muita coisa a pé), mas falta muita iniciativa do poder público, ô se falta. Pra começar, existe nas grandes cidades uma concentração de postos de trabalho em determinadas regiões. Não tenho as estatísticas (nota mental: isso cabe no trabalho, tenho que pesquisar), mas aqui em São Paulo muita gente trabalha no eixo da Marginal Pinheiros, eu e marido inclusive. A gente escolheu, porque cabe no bolso, morar não muito longe e usar transporte público. Pra isso, pagamos um aluguel bem salgado em troca de qualidade de vida – caminhamos 15 minutos até a estação de trem mais próxima, andamos 4 estações, e no total levamos cerca de 40 minutos por deslocamento – ou 1h20 diárias. Isso em São Paulo é luxo, acreditem. Temos, nós dois, colegas que levam mais de 3 horas diárias dirigindo. E lógico, se estrassando e poluindo o ambiente por tabela. Dá pra todo mundo morar perto do trabalho? Não se o trabalho estiver concentrado em uma só região. Mas seria mais viável se houvesse investimento público para criar um centro corporativo moderno na zona leste, por exemplo. Diariamente, centenas de milhares de pessoas se deslocam da zona leste de São Paulo para trabalhar nas zonas sul e oeste. E Wright tem razão: não tem metrô que dê conta do recado. Nem metrô, nem ônibus fretado, nem via pra passar tanto carro. As pessoas precisam fazer trajetos mais curtos, com urgência.
Outra coisa que me ocorreu outro dia é que o poder público poderia conceder incentivos para empresas que permitem aos seus funcionários trabalharem de casa. O meu caso, como eu já contei, é um pouco mais complicado, mas vários dos meus colegas vão ao escritório pra resolver remotamente problemas de software dos clientes espalhados pela América Latina. E se vão trabalhar remotamente mesmo, que diferença faz fazer isso em casa? Sim, acho que o mínimo de contato com os colegas é importante, mas poderiam ir ao escritório uma vez por semana só. Marido é a mesma coisa. Ele é projetista. Um computador com o software e uma conexão de internet são suficientes pra ele fazer seu trabalho. Sim, de vez em quando tem que tirar dúvidas, mas a maioria um e-mail ou uma conversa telefônica resolveriam. Uma reunião física uma ou duas vezes por semana dava conta do mais complicado. Imaginem quanta gente poderia trabalhar assim? E o ganho para as próprias empresas, em energia elétrica e aluguel? Ok, alguém pode dizer, mas então o empregado é que vai arcar com essa despesa? Não exatamente, né? Porque se ele vai economizar com combustível, estacionamento, ônibus fretado e, principalmente, horas de sono e muita aporrinhação, o benefício compensa 50 pilas a mais na conta de luz.
Enfim. Acho o problema do trânsito (ou da mobilidade, pra falar bonito igual minha colega) super negligenciado, e sempre tratado com olhos conservadores demais. Mais avenidas não resolvem, isso está claro. E esse é um problema que complica a vida de todo mundo: os mais pobres sofrem mais porque vivem mais longe e seu transporte é de pior qualidade, mas a não ser os muito ricos que podem pegar um helicóptero (e acho que mesmo os muito ricos não podem se dar a este luxo todos os dias), todos sofrem com os engarrafamentos, não importa quanto dinheiro tenham. Então, mesmo quem é cabecinha de ostra e acha que só ricos tem direitos e pobre é assim porque não gosta de trabalhar (acho que ninguém passa por aqui, felizmente), há de convir que deste jeito, não dá pra ficar.

Ok. E daí, minha gente, por onde eu começo? :-)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O caso Maristela Just

Outro dia, ouvindo uma mãe chamando a atenção de filha de 7 anos por se sentar de pernas abertas, me lembrei que desde cedo aprendemos como o mundo é machista. Mas Natália Just aprendeu isso talvez ainda mais cedo, e de maneira muito mais pesada. Quando ainda não tinha completado 5 anos, seu pai matou sua mãe. Ela, o irmão mais novo e um tio também foram seriamente feridos na mesma ocasião, mas sobreviveram. E só hoje, 21 anos depois, com a idade que sua mãe tinha quando foi assassinada, pode ver o assassino ser condenado. Em primeira instância ainda, e foragido da justiça.

O julgamento havia sido marcado para o dia 13 de maio, mas diante da ausência do acusado e de sua defesa, teve que ser adiado (ontem o julgamento ocorreu à revelia). E foi nessa época que fiquei sabendo da história pela internet. Fui fuçando na internet e descobri que Natália, que antes evitava se manifestar sobre o assunto publicamente, criou um blog, que hoje atualiza com a ajuda do irmão Zaldo. E lá achei o link para esse depoimento, que me tocou tanto.

Lembram quando eu escrevi aqui sobre justiça? Sobre processo civilizatório ser completamente oposto a linchamento? No depoimento somos apresentados a uma mulher muito forte, centrada e muito humana. Que não perdoa o assassino, mas não busca vingança. Entendemos que deve ter sido uma dor imensurável ter sido privada da mãe, saber que o pai foi o responsável, ter que crescer com isso. E que teve um processo aí, de tomar força de amadurecer, pra conseguir dar conta de se expressar. Como não sentir um profundo respeito por sua história?

Triste é saber que não é exceção. Que há muitos homens atentando contra suas companheiras por aí. Nos jornais aparecem todos os dias. E acho que não é nada difícil conhecer algum caso assim pessoalmente, nem que seja do amigo de um amigo. E rola sempre uma relativização, uma tentiva de atribuir a vítima nem que seja uma parte de sua culpa. Lembram-se do Pimenta Neves, o jornalista que matou a namorada? Na época li em alguns lugares que a vítima, muitos anos mais nova, tinha recebido inúmeras promoções em curto espaço de tempo por se relacionar com um chefão da imprensa e, estando confortavelmente instalada num cargo bom, resolver dar um pé na bunda do cara. No que eu pergunto: o que interessa? Ok, acho que não ia gostar de tê-la como colega de trabalho. Daí a justificar seu assassinato, vai uma enormidade.

Mas sim, as pessoas tentam justificar assassinatos – principalmente quando as vítimas são mulheres. O pai do assassino de Maristela, um advogado criminalista diga-se de passagem, alegou que seu filho agiu em legítima defesa da honra, com se espera de um homem com brio. Pois é. Lembram a história de que homem tem honra, mulher tem vergonha? É isso. Se a gente não tem vergonha, o homem “proprietário” (pode ser pai, marido, ex-marido, ou qualquer um que se julgue no direito) tem que lavar sua honra com sangue. A bárbarie minha gente, sempre ela.

Por isso gostei tanto do depoimento da Natália. Ela não defende a bárbarie. Ela quer a civilização, colocar a cabeça no travesseiro e saber que não vive num mundo em que assassinos transitam por aí impunemente, protegendo-se por trás de um sistema machista. Nisso com certeza estamos juntas.

Desabafo

Olha só, eu sou cliente do mesmo banco há mais de 10 anos. Antes dessa conta, tive uma em outro banco, que me tratou mal e cobrava taxas absurdas. Cancelei. Mas vivemos no mundo maravilhoso do capitalismo e suas fusões e aquisições, e o meu antigo banco comprou o meu atual banco.

Meu atual banco nunca me enviou cartões não solicitados. Lógico, envia aquelas cartinhas oferecendo crédito a juros módicos, me tratando pelo primeiro nome, na maior intimidade, pra tentar me ludibriar e me fazer crer que sou trouxa por não aceitar dinheiro fácil: "Iara, tem 25 mil reais esperando por você!". Aham. Só que cartinha assim a gente nem precisa abrir, né? Pode xingar os caras por aumentar o lixo do planeta, mas fazer o quê?

Hoje cheguei em casa e tinha uma correspondência pra mim do banco (assinada pelo atual e pelo ex que agora é futuro - acompanhou?), sem cara de propaganda, com a senha do "meu" cartão Mastercard. Estranhei e comparei com o Mastercard que eu já tenho - da conta com o marido. Números diferentes. Os infelizes me mandando cartão novo!

Lembrei que recebi uma ligação há uns 10 dias oferecendo um Mastercard. Expliquei que eu tenho um Visa pra conta pessoal e um Master pra conjunta, fora o Amex que fizeram pra mim na única vez que eu viajei a trabalho (e agora você vai achar que eu sou rica, mas eu tenho mais cartão que dinheiro, acredite), e não estou interessada, de maneira nenhuma, em ter outros, obrigada. Mas a correspondência com a senha diz que eu devo recebê-lo em 7 dias.

Daí que eu liguei querendo cancelar. Dificuldade imensa até atender uma pessoa. Cinco minutos tentando decifrar qual dos números me levaria a uma atendente, não a uma gravação. E quando eu consegui fui informada de que eu não posso cancelar o cartão neste momento. Tenho que esperá-lo chegar. Eu não pedi a porra do cartão e tenho que perder tempo e gastar telefone cancelando, senão pago uma tarifa cara por ele. Sim, o Procon proibiu essa palhaçada. Mas cadê que os caras respeitam!

Vou ligar na sexta pra minha gerente quebrando tudo. Se vou.

Ok. Voltamos em instantes com nossa programação normal